sexta-feira, setembro 30, 2005

Boa Vizinhança




Ouço ainda aquele belo solo de saxofone ao virar da esquina, o velho Harry parece que continua em grande forma, O Harry era o tal vizinho barulhento que mexia com o nosso nervosismo permanentemente mas que ao mesmo tempo era uma pessoa de inigualável beleza interior. Ensaiava quando chegava do trabalho já noite feita e quando a mulher não lhe pedia para ir passear o belo do seu cão. Que sensação de liberdade e beleza ele conseguia transmitir as pessoas que passavam naquele subúrbio de New Orleans.
Sinto-me um virtual desmiolado ao ter conhecimento que a Beleza de Sally tinha voltado para violento namorado, esse que certo dia quase a matava á porrada por míseros dez dólares. A miúda como prostituta que era, tinha o reles defeito de roubar a carteira ao cliente sempre que este adormecia em seus frágeis e leves braços. Certo dia esqueceu-se de dizer ao namorado que para além do habitual serviço tinha garantido mais dez dólares de consolo. Este perdeu as estribeiras e pontapeou-a ferozmente levando-a a um internamento hospitalar de duas semanas. Do Carniceiro Jim deixei de ter noticias á cerca de 1 ano quando se mudou de malas e bagagens para a Europa juntamente com a sua filha deficiente, ainda hoje derramo uma lagrima quando penso o que aquele homem já passou pela sua filha, o sorriso ainda jovem de Jim perdeu-se na solidão duma doença mental sofrida pela filha num estúpido acidente de automóvel. Do seu talho apenas resta o aviso “Trespassa-se” pendurado na montra. Mas que pássaro pode entoar esta canção melódica que estou a ouvir com tanta curiosidade? É afinal a doce Maria que piscando-me o olho me faz ainda acalentar esperanças quanto a uma possível aproximação amorosa. Maria mesmo aos quarenta anos (que não aparenta) faz-me acreditar que o amor pode ser conciliado com o poder vocal.
Pois sempre que a ouço cantar parece que meu coração volta a explodir de amor por aquela beleza Sul-americana. Sempre que penso em amor é o nome dela que me surge em frente aos olhos. Gostava de acreditar que um dia aquele sorriso nunca se envelhecera para meus olhos. Mas o que faz um pobre escritor feito cantor movimentar-se tanto em redor daquele bairro? Somente lembranças de cumplicidade meus caros, lembranças de laços e de afectos...lembranças que um dia eu também me senti cúmplice daquela minha vizinhança.

PS: Dedicado para todos os habitantes de New Orleans que perderam a sua vizinhança.

3 comentários:

xein disse...

Tu e o teu bom coração.... Pena que a maioria dos Norte Americanos não sejam assim.... Enfim...


Sente-te!!!

Anónimo disse...

Gostei da dedicação...Assim é que é:)

Beijokinhas,
Fica bem


Ass:www.barmaid.blogs.sapo.pt

Anónimo disse...

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