terça-feira, maio 31, 2005

Deslumbro imensa sabedoria...



Sereno espectador me sinto ao deslumbrar com tamanha situação incomoda, um cego que me apanha desprevenido e no seu jeito meio gingão procura a minha mão.
Finjo-me de cobarde e tento passar despercebido entre a multidão, envergonho-me disso mas é uma tendência minha passar despercebido em tudo o que faço.
Os comentários são diversos e procurando respostas para tantas questões o cego afirmava que a sua rotina diária nunca é igual de dia para dia, e existe sempre algo para descobrir e tanta coisa para apreender. Escuto-o com muita atenção como costumo fazer com qualquer mestre do conhecimento ou da sabedoria. Fico a pensar que um dia também possa ensinar aos meus netos tudo o que apreendi com aquele sujeito naquele dia.
Fecho de propósito os olhos por um segundo e sinto-me por momentos vitima duma cegueira precoce que me foi imposta por um tal de Deus. Parece que nessa altura nada é real, parece que sinto todo o mundo desmoronar-se sobre os meus ombros encolhidos por tamanho receio. Temo esta experiência quase real, reabro rapidamente os meus olhos e questiono:
Então como se sentira uma pessoa que nunca viu o mar?
Que nunca viu um sol vivo nascer entre nuvens?
Que nunca deslumbrou um crepúsculo no horizonte?
Tantas questões não serão colocadas por mim certamente neste curto passeio de dez minutos até porque a minha eterna timidez não me permite infelizmente novas intimidades. Cheira o aroma de um perfume caro no ar, sorri fiel ao seu olfacto e ergue o seu chapéu a um senhora atraente que passa por nós.
Esta viagem só acaba quando passo o testemunho a um jovem da minha idade, Hoje espiritualmente sinto a falta daqueles dois dedos de amena cavaqueira, sinto que todos estes pequenos pormenores podem fazer uma grande diferença na minha mente. Necessito de aprender com os mais velhos sábios deste nosso mundo, pois eles fazem-me aperfeiçoar os valores que eu defendo.

terça-feira, maio 24, 2005

Previsões futuras

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Poucas vezes ouço o uivar terrível daquele comboio cheio de sofrimento, mas quando o ouço não nego que fico a pensar o quanto vai ser penoso vivermos para sempre.
A imortalidade não é desejável nesta altura onde parecemos todos loucas baratas irrequietas andando de um lado para o outro, vagueando por entre ruas cheias de pedintes ou de emigrantes miseráveis procurando pão e sobretudo atenção.
Escuto Dona Vitoria aquela senhora que todos apregoam como vidente, mas que afinal pouco mais faz que ler o antigo diário de sua querida vizinha assasinada por um marido louco de ciúme. Ela não me traz grandes novidades quotidianas, mas fica particularmente alterada quando lhe pergunto como se vai comportar a Humanidade daqui a largos anos. Protegendo-se na sau resposta afirma que somente temos que viver o presente e esquecer um futuro possivelmente muito sombrio.
Mas que presente questionei eu, aquele presente onde fugimos de qualquer compromisso estável ? Ou quando passamos a perna a um amigo eterno só por uns míseros trocos? Aquele presente onde fazermos crer aos nossos filhos que a escola é o melhor escape para uma estabilidade profissional?
A Bruxa Vitoria deixa escapar por entre murmúrios inaudíveis que até ela fica horrorizada e enfurecida quando o próprio senhorio de seu condomínio lhe pede dinheiro para sustentar a sua barriga sedenta de mais uma cerveja de malte ou para trocar mais umas caricias com a prostituta lá do bairro.
Realmente olhando em minha volta o aspecto daquela horrível carcaça de madeira vulgarmente chamada de casa mais parece uma barraca de um pequeno canino. Passados alguns minutos deparei que á primeira vista aquela conversa já era mais uma amena e saudável cavaqueira do que um compromisso profissional da parte da Vitoria. Ela tinha-se finalmente aberto a um completo desconhecido que só queria umas respostas convincentes.
A certa altura falou do que sentia pela sua filha, e da maneira como foi mal tratada por um bairro onde vivia há vinte e dois anos com a mesmo humildade de sempre. Para complementar o feitiço que ela inadvertidamente colocou sempre mim, só restava friccionar as suas mãos sobre mim para que uns pozinhos mágicos de felicidade eterna caíssem sobre meu ombros. Afinal essa era mesmo a única razão para o qual eu procurei aquele tempo misterioso.

quarta-feira, maio 18, 2005

Friends will be Friends...



...Cansado e com pouca lucidez me desloquei de corpo e alma para a já famosa e assombrada casa dos Horrores, erva seca eu encontrei a pregoar chuva, ventos de solidão e de carência fizeram-se convidar naquele segundo. Nunca sonhei que aquele momento pudesse chegar, e é estranho vê-lo divertido e deprimido ao mesmo tempo que fuma um cigarro.
Passamos momentos inesquecíveis juntos e se o tal senhor vindo dos céus quiser, ainda vamos ter muitos segredos e historias para contar um ao outro. Acciono o botão de cumplicidade visto que nesta imensidão de tempo nunca encontrei argumentos validos para uma necessária desintoxicação mental.
Fecho o punho temendo não conseguir fazer desaparecer as lagrimas que me voltam agora aos olhos, mil e uma situações passaram-me pela cabeça naquele hospital durante a minha caminhada. Pedi-lhe compreensão e menos teimosia nas suas acções, afinal os gestos em comum que tivemos neste imenso tempo que partilhamos a nossa amizade não foram em vão.
A minha primeira visita foi uma dura etapa de percorrer pois nunca tinha presenciado as caminhadas desconcentradas dos doentes daquele ala.
Só mesmo naquele mísero cubiculo ele conseguiu se refugir do demónio azarado que o atormenta á variados anos. Aquele demónio fictício em que nós nunca acreditamos reage agressivamente a qualquer fuga duma próxima vitima,
Tenho o sonho de lhe tocar na alma e o poder convencer a sair daquele edifício de cal esbranquiçada cheio de compromissos muito dos quais inacabados.
Daqui faço um apelo...que o amor e a amizade posso derrotar para sempre a “doença” que o meu fiel amigo compadece neste momento. Para ele que preza tanta a amizade será uma tarefa fácil, já que nesse campo ele é um verdadeiro líder.
Nunca te sintas perdido porque quando abrires verdadeiramente os olhos nós estaremos ao teu lado...

quinta-feira, maio 05, 2005

Equilíbrio emocional



A Pura sensualidade feita de salto-alto passa por mim junto ao largo do calvário, aquele olhar de temível devoradora de preconceitos passados já não pára para pensar ou escutar qualquer conselheiro.
Finge ser mulher adulta, mas carrega em si o fardo da solidão interior, esta deusa jamais deixara qualquer homem feito macho intrometer-se na sua vida privada. Aquelas lagrimas de tristeza derramadas por um afecto perdido que um dia percorreram seu rosto, foram as ultimas da sua vida.
Abusou da sinceridade e do carinho do Antunes e exclamou que somente queria o do Artur por uma só noite, onde o compromisso não passe-se para o seu coração agora gélido.
Aquele sorriso de matadora percorre cada olhar de nós vulneráveis homens, julgamos sempre ser possível conquistar cada coração solitário e ressentido. Quanta destreza e coragem permite ouvir certos comentários menos abonatórios em se favor, vulgarmente chamados de mexericos, próprios de mulheres invejosas da sua infindável beleza.
Alimento ainda o sonho de ver aquela mulher feliz de novo, talvez um dia ela possa voltar a transgredir as fronteiras do real amor, daquele amor que ocupa nosso coração com prazer e custa a limpar...
Aquela rotina diária feita de papeis para transcrever ou faxes para enviar não permite mais que alguns dedos de conversa com a sua simpática mãe sempre preocupada com a sua vida, agora cada vez mais pessoal. Realmente o que ela tem de melhor para oferecer são as suas doces palavras construídas com uma inteligência sempre superior a uma conversa banal.

Ps: Fico com a sensação que muitas mulheres sentem um prazer climático ao verem-se livres dum amor sincero e objectivo, sentem sempre que somos nós que temos de condescender ou de pedir perdão...
A Independência emocional é quase uma utopia desejada...

terça-feira, maio 03, 2005

Orgulho Nacional



...Portugal vive actualmente pequenos momentos de gloria e fama, dividido entre as conquistas de José Mourinho ou a possível nomeação de vários políticos nacionais para altos cargos mundiais. Portugal passados quinhentos anos volta a conquistar o mundo pelo menos em nosso pensamento fictício. As conquistas já não se fazem através de velhas cascas de noz, mas somente por palavras ou gestos.A Europa invejosa ainda tenta limitar a nossa intervenção em muitas áreas essenciais como as pescas ou a agricultura, mas jamais poderá impedir que o orgulho e a vontade lusitana se espalhe por essa Europa fora.
Com uma pureza de alma peculiar Amalia conquistou o poder de ser reconhecida graças ao seu enorme talento musical, entretanto Aristides de Souza Mendes ia salvando milhões de judeus de uma morte anunciada, Lúcido e com uma enorme coragem Salgueiro Maia derrotava um estado caduco e ditatorial. Fiquemos então com o cravo da liberdade do nosso lado, fiquemos com a memória que metade do mundo já esteve nas nossas mãos, dessa memória fica um passado que alegra nossos avós quando lhe perguntamos como era viver num tempo em que tudo parecia sorrir em seus horizontes.
Penso efectivamente que o tradicional povo português é demasiado passivo em diversos assuntos tais como a justiça ou o direito de expressão.Muitas vezes marcamos greves somente por interesses de outros, Atiramos sempre a primeira pedra porque sabemos que mais tarde vamos iremos pedir uma indemnização choruda, ou sacrificamos nossos filhos a ir a catequese porque nos foi dito que era agradável para a educação deles.Sinto-me bem em ser Português, penso que ser Português é ser diferente para melhor. Mas constante vitimização que fazemos transparecer não devia fazer parte do nosso vocabulário, devíamos enaltecer sempre o que temos de bom para oferecer.
Críticos destrutivos que sejam os outros...