quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Carta de Despedida





“São estas fotografias a preto e branco que me fazem voltar a sonhar, agora depois destes longos anos sei finalmente que é da Júlia que gosto. Decidi escrever esta carta para que a minha consciência fique limpa de vez, Antes que a memoria não me atraiçoe resolvi colocar numa mísera folha de papel todos os anos dum amor impossível. Tenho agora sessenta e quatro anos e tenho uma doença fatal com um destino traçado desde o passado mês de Janeiro, maldito este tabaco que me fez perder anos de vida sedentária na minha cadeira de madeira. O amor foi para mim a única riqueza que me fez agradecer a minha existência, apesar de não a ter passado com a mulher que sempre amei, a Júlia um dia lá nos céus nunca me ira perdoar senão a tivesse a honrar agora nestes instantes. Pois foi com ela que partilhei os melhores momentos da minha vida, foi sempre a Júlia que eu imaginava quando fazia amor com a minha mulher, era sempre a Júlia que me vinha a cabeça quando me perguntavam qual era a mulher da minha vida. Pobres jovens que pensam que o amor nasce duma conversa dum mundo virtual como a Internet, Pobres mentes aquelas que pensam que o amor nasce numa primeira cambalhota nocturna. Agora que sei que a morte me espera e que não há possível abrandamento nesta estrada, só me resta pedir perdão á vida por ter desejado mais do que ela me podia oferecer, se a vida me perdoar poderei partir com a consciência tranquila e rejuvenescida, própria de quem voltou a conquistar um sorriso que tinha por perdido por longos anos.
Tenho já idade para ter juízo como dizem os meus netos quando resolvi programar uma mini reunião de família, em que anunciei a minha doença terminal. Todos os meus filhos choraram compulsivamente, os meus netos não se aperceberam de declaração e inocentemente continuaram a brincar com uma bola que lhes tinha oferecido pelo natal. Nessa reunião também afirmei que iria escrever esta carta de despedida e que nada me podia mudar de ideias, já que nesta vida nunca tive oportunidade de provar a minha coragem perante a minha cara-metade, tenho agora oportunidade de faze-lo depois de morrer…
Santa Júlia que estais no céu perdoai-me esta farsa romântica que foi a minha vida com a minha mulher, tu que sempre me aconselhaste a divorciar-me dela sem nunca pedires o meu amor em troca. Perdoa-me este erro que mudou para sempre a minha vida”.


Assinado: Gustavo de Sousa Mello.

11 comentários:

Anónimo disse...

Já muitas vezes pensei... quantos casos destes existirão entre as pessoas que partilham comigo a viagem para casa. Quantos amores verdadeiros sufocados por farsas românticas? Quantos?

Ni disse...

Linger... Carlos:

Deixo aqui a resposta ao comentário que colocaste no meu blog... e onde me refiro a este post.

Carinho...

~::~


Estive ontem no teu blog, li o último post, e não consegui comentar.Um turbilhão de emoções, de 'sentires' contraditórios, apoderou-se de mim, sabes?
É um post que daria um outro post para o comentar e muito ficaria por dizer.

Mas uma pergunta eu lanço: O que é o amor de uma vida? Aquele que se transporta, idealizado e nunca concretizado... ou... o que se viveu realmente, com alguém, lado a lado... no bom e no mau... numa vida partilhada?

Colocar num pedestal um ideal é fácil... tal como a história de Romeu e Julieta que circula via email: não tiveram o tempo para viverem o trivial... e tudo surge como o amor ideal.

...

O amor de uma vida... aquele que percorre connosco os caminhos nos tempos de festa e de luto... e que não 'abandona o barco' quando a tempestade surge.

Há amores assim?
Quero acreditar que sim.

Carinho. Volta sempre.

Ni*

trigolimpofarinh@mparo disse...

POWER!!! É mesmo, em assuntos de amor são os "loucos" quem tem mais experiência. Sobre o amor, não podemos perguntar nada aos sensatos: os sensatos amam sensatamente, o que equivale a nunca ter amado.

Abraço

Flour disse...

O amor é e será sempre a origem e o destino das nossas vidas.. obrigada pelos teus comentários reconfortantes :-)

Wakewinha disse...

Que arrepio frio... que infelicidade trespassada pelas palavras! =S Não sei se mais pobre foi ele, se foi a mulher por nunca ter tido ninguém que a amasse verdadeiramente...

Fragmentos Betty Martins disse...

Olá Linger

Obrigada pela tua visita. Bom! agora que sabes o caminho. Volta sempre a minha "casa" :)

Uma vidade desamor - nada mais cruel.

Vou conhecer um pouco mais o teu "espaço"

Voltarei :)

Beijinhos

Eva disse...

Passei. Não bati e entrei. Li e gostei. Vou guardar para voltar outra vez, posso.

Uma boa semana

Eva

Anónimo disse...

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Sofia F. disse...

Linger...de volta à escrita :)

Olha, haverá amores impossíveis??? Essa escolha é também um acto de amor, mais que não seja pelos próprios...amar dá muito trabalho :) Beijinhos Amigo. Escreve mais :)

Anónimo disse...

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