segunda-feira, agosto 29, 2005

Sou mesmo Filho de Peixe...




É curioso que me sinta um pequeno monstro quando deito um pouco de carne á minha boca. Talvez um dia me consiga tornar um complexo vegetariano sem ponta que se lhe pegue. Não sei se é a minha consciência que me atropela sempre que a memória lembra-me o sofrimento de um qualquer animal, mas cada vez sinto mais compaixão com os animais.
Neste fim-de-semana fiz me pescador de rio e como a primeira experiência é um marco importante levei comigo a maquina fotográfica desejosa de tirar partido daquele momento único. Quando capturei o pequeno peixe ele parece que olhava para mim com cara de embaraço provocado talvez pelo medo duma mais provável morte. Aqueles olhos tocaram-me como talvez nenhum animal o tinha feito até então. Nem cão nem gato transportam em si tanta angústia ou sofrimento perante a dor como um peixe (visto por mim).
Fiquei imobilizado á olhar fixamente para os olhos deste e pensei para mim com cara de juiz, como posso eu apanhar um peixe com um olhar tão acusador e ao mesmo tempo tão assustado. Perguntei á pessoa que me acompanhava como o podia soltar de novo para seu lugar. Com um ar de troça disse que mesmo esses pequenos peixes eram bons para colocar na cova do dente, e que não valia a pena o deitar de novo para o rio.
Ora era completamente impossível no meu estado natural de sanidade colocar fim aquela vida, debrucei-me sobre a margem do lago e sem que ninguém suspeitasse coloquei-o de novo na agua. Naquele instante parece que tinha efectuado a boa acção do dia, foi como dar a mão a um cego para atravessar uma rua ou ajudar uma velhinha com as compras na mão. Peixe esse que parece-me que agradeceu de forma efusiva ao voltar ao meu encontro naquela mesma tarde, e perguntam-me como é que o reconheci e eu respondo...”Pelos Olhos”.
Pelo menos fico com a certeza que aqueles olhos vão acordar mais um dia, e se me recordar dele será quando ler o meu próprio horóscopo. Fica bem querido peixe...

segunda-feira, agosto 08, 2005

Abraçando o Amor...



Dentro de ti consigo ser feliz e realizado como ser humano, dentro de ti me esqueço que sou capaz de desiludir os meus amigos. Contigo ao meu lado sou capaz de devorar o mundo inteiro sem sequer mastigar. Quando viajo em minha mente por algo infinito é em ti que me revejo e que penso que podemos virar toda uma vida de pernas para o ar só por causa do amor...
Fomos abençoados por um amor que ultrapassa fronteiras sem perturbar quem viaja dentro dele, da carícia se fazem arrepios...do amor se fizeram afectos concretos.
Não sou bem capaz de definir o amor que tenho por ti e é com tristeza que muitas vezes quero que corras atrás de mim como uma fêmea sedenta de amor. Quando isso não acontece fico encharcado em emoções e pensamentos fúteis que só me prejudicam.
Tento convencer-me que sou o dono do amor de todo o mundo e que todas as pessoas depositam em mim a arte de amar o próximo. Com tanta profecia imaculada ainda vou virar um qualquer deus de felicidade eterna. Queria abraçar o mundo inteiro e aperta-lo com tanta força para que o ódio e a tristeza saíssem dele de vez.
Quero que me dês a mão quando te sentires sozinha nesta mundo sem ninguém para te confessares, quero que te escondas por detrás de meu coração quando a malvadez e a tristeza pairar por nossa casa. Por certo serei sempre teu defensor.
No acto do amor funcionamos como um acordeão maleável nas mãos dum músico de dotes artísticas bem vincadas, a doce melodia ouve-se suavemente e até se confunde com gemidos de prazer...
Não me peças para ser louco ou exuberante, ou para ser tímido e reservado. Pede-me só que te tente compreender cada dia melhor. Para que estas noites longas de verão não sejam suportadas só por um doido amoroso peço-te que me acompanhes sempre nesta viagem ao mundo do desconhecido amoroso. Qualquer dia daremos asas ao teu sonho eterno...
Prometo que tentarei ser sempre um homem á tua altura meu anjo amoroso.
Penso em ti sempre.

Dedicado a minha mulher...

sexta-feira, agosto 05, 2005

Diário dum incendiário




...Mãe já retirei o leite da cabra e preparo-me para ir dar uma volta com as ovelhas, o dinheiro que ficou na tua mesa-de-cabeceira é para pagar a conta da mercearia pois o senhor Chico já nos avisou que não nos dá mais fiado enquanto não pagarmos a totalidade da conta da semana passada. Com o pouco diheiro que sobrar podes-me comprar uns novos sapatos porque estes já se abrem há frente e neste verão os espinhos que atravesso no campo parecem cada vez mais...
Aquele senhor que nos visitou a semana passada voltou a pedir um novo trabalhinho, não sei ao certo o que se passa comigo mas ontem pela primeira vez senti muitos remorsos ao ver aquele triste espectáculo na televisão.
Mãe não quero fazer mais este tipo de trabalho, Sei que á noite quando vires este bilhete vais ficar aborrecida mas espero que não me batas mais como da última vez pois ainda sinto as marcas nas costas.
Sei que é muito dinheiro que está no envelope que o Senhor Doutor deixou cá em casa, mas ontem até a ovelha do primo Augusto morreu queimada porque ao fugir da floresta deixei cair o isqueiro sem querer. As pessoas aqui da Aldeia não sabem o que eu faço para voltar a calçar uns os sapatos novos mas o pior é que estes sapatos podem voltar a custar vidas humanas e isso eu não quero mais...
Pai tu que nunca deixaste que o Doutor se aproxima-se da nossa terra deves-me compreender mas infelizmente já nem escutar o meu lamento podes visto que a terra fez questão de te engolir para sempre. Mãe tenho feridas nos pés por percorrer tanto caminho ao longo do dia e quero descansar desta vida. Quero ser como os outros meninos da minha idade que jogam ao pião e as escondidas todos os dias deste verão. Quero voltar a brincar com o Douglas enquanto este me acena rejubilante com um osso na boca.
Procuro que o meu passado não se cruze com o meu futuro....
Mãe não quero voltar a colocar lume nas florestas....
Mãe ainda te adoro muito...


Vasco 11 anos de idade

quarta-feira, agosto 03, 2005

Paz na Irlanda finalmente...



...enquanto aquele terrível despertador toca mais uma vez para acordar Jasmim este permanece quieto e sonolento na sua cama, aguardando pelo grito de alvorada de sua mãe.
Bastou uma colherada naqueles cereais deliciosos para ver que a sombra do soldado inglês já não se encontra a porta de sua casa.
Fica intrigado com estranha ausência de segurança e corre para o andar de cima perguntando a sua mãe doente se viu hoje Peter o soldado inglês que permanentemente passeia em redor da sua casa sob forma de protector familiar. A mãe exclama que Peter partiu hoje finalmente para a sua terra natal e que possivelmente Jasmim não vai voltar a escutar o seu assobio de rouxinol.
Peter tinha o terrível hábito de assobiar quando se sentia nervoso e isso percebia-se a distância de um olhar irrequieto, até o sorriso parecia gélido quando pressentia o perigo.
Passar uma semana de saudades parecia ser o destino de uma criança cada vez mais silenciada por caminhos diferentes.
A Mãe explicou-lhe que o que importa naquele momento é a lembrança bonita que Peter deixou na mente e no coração de Jasmim e quando o tempo passar as feridas da saudade iram sarar e tudo se vai recompor.
Pegou na sacola com ar de paciente enganado e colocou todos os seus livros violentamente dentro dela com se estes tivessem alguma culpa de tanto desespero, a mãe por essa altura mostrou um sorriso cúmplice como que a preparar alguma boa surpresa.
Desceu a escada do seu pequeno apartamento nos arredores de Belfast e quase ia tropeçando talvez nas suas próprias lágrimas visto que um choro compulsivo como aquele sente-se como pedra em nosso asfalto. Saiu sem bater a porta com força e não se despediu sequer da mãe caminhou silenciosamente abrigando-se debaixo duma nuvem cinzenta.
Assustou-se ao ver uma sombra quase familiar, mas o assobio daquele homem não lhe deixava duvida era mesmo Peter que voltou somente para se despedir daquela criança chorosa de momento. Envolveram-se em abraços compulsivos quase assumindo um laço de paternidade que nunca se tinha reparado. O choro da criança agora derrama na farda do soldado Peter este que nunca assumiu qualquer compromisso de amizade com tamanho catraio sentia-se perdido por nunca ter reparado que daquele lado do Reino Unido são as crianças que mais sofreram com uma guerra injusta...

Paz na Irlanda finalmente...o mundo agradece...