quarta-feira, janeiro 25, 2006

Recordando a Vida...




Enfrascado de tanto álcool, senti-me quase perdido neste caminho iluminado por um luar misterioso e complexo de difícil compreensão. Apetecia-me mais um cálice de vinho do Porto suculento daqueles que nos deixa um sabor doce na boca. Fiel na minha caminhada demorei a perceber que naquelas horas o único som que se podia ouvir era o vento fazer-se rasgar e um grilo pequeno a cantarolar.
Mais parecia um cortejo fúnebre, aquele pisar de mato, aquele bosque que agora me envolve tem um cheiro tremendo á resina acabadinha de sair daqueles jovens arvores.
Sem ter qualquer oportunidade para fazer iluminar o local, achei por bem colocar meus pensamentos positivos em dia para fugir a uma penosa e melindrosa sensação de escuridão. Refugiei-me em acontecimentos positivos da minha existência e descobri que existem acontecimentos de elevada importância na minha ainda curta vida, a minha primeira fralda, o meu primeiro beijo mais sentimental, a minha adolescência representada por uma inútil capacidade de aprendizagem escolar.
Apaixonei-me pela vida finalmente, demorei a entender que aos trinta anos a vida parece querer voltar para atrás, então que esse retrocesso nunca se reflicta numa pele enrugada. Esse meu medo é partilhado também pelo espelho lá da casa, que se vem enfurecendo com a minha vida sedentária e de pouca energia matinal.
Nesta viagem na escuridão enfureci-me comigo mesmo pelas oportunidades desaproveitadas, o tema do insucesso escolar voltou a incomodar a minha mente, essa foi talvez a situação que mais me arrependo nesta vida.
Voltei a cambalear e foi tropeçando em algo que me fez recuar dois metros naquele bosque, uma pedra luminosa tentava passar despercebida na escuridão. Peguei nela como um amuleto sagrado e coloquei-a no meu bolso apressadamente.
Aquela pedra poderia significar algum sinal divino, alguma mensagem de apoio ou sorte na minha vida (o jackpot no euro-milhões não esta incluído na descrição de sorte). Acreditei que aquela pedra me poderia trazer algo de positivo e sagrado, ao chegar ainda bêbado ao meu apartamento demorei a entender que afinal a sorte e a coragem sempre me protegeram de uma maneira ou de outra, e que para ter toda a sorte do mundo nem é preciso ser muito rico.
Basta um Pensamento positivo sempre que a tristeza tente invadir as nossas vidas…
Basta acreditar na própria vida…

terça-feira, janeiro 17, 2006

Afinal na Morte também há vida...




Hoje imaginei que no céu afinal há vida, que existem pássaros brancos a voar no céu, que se podiam ouvir os sons duma linda catarata e o uivar dum pequeno lobo.
De imaginação passou para sonho e de sonho mudou-se para uma realidade nunca presenciada, que a minha imaginação nunca se perca em caminhos solitários sem ninguém com quem conversar. Senti-me esboçar um sorriso quando avistei o Amílcar, afinal este pobre diabo também veio aqui parar. Amílcar era um tipo bem formado, educado e com um enorme sentido de responsabilidade, desviou-se dessa rota quando zangado e completamente fora de si, pegou num pedra da calçada calcando-a na cabeça da sua pobre mulher. Ele também não foi sujeito a nenhuma vistoria especial quando entrou neste rio, lembro-me parcialmente da última imagem que meus olhos visualizaram na Terra, era um peixe de cauda bem espessa, toda sarapintado de vermelho e negro. Foi nessa altura que os meus olhos se fecharam.
Os olhos daquele peixe transformaram-se agora nos meus, Nesta altura o único prazer de ser humano que resiste dentro de mim é o apetite demonstrado num belo manjar. Esforçou-me para me manter de boca fechada dentro de água, jamais poderei alertar este imenso cardume de que já fui humano por uma única vez. Ressalta a vista outro pormenor delicioso neste rio de água doce, toda a sua espuma envolvente cheira a sentimento puro, cheira a inocência infantil, cheira a um sorriso precoce.
Quando ouço vozes de alarme prevejo que algo está a acontecer neste meu novo ambiente, reparo que Afonso (conheci-o quando escrevi este mar de frases) me diz para sair da sua frente, é que finalmente reparo naquele enorme gigante.
Confesso que não fiquei assustado com tamanho gigante, olhei com surpresa que a brincadeira daquele pobre gigante era somente nos assustar com seus sopros, que inevitavelmente provocavam pequenas ondas.
Ao olha-lo de mais perto reparei que usava fraldas fechadas por um alfinete já enferrujado, tinha um sorriso leve de criança apaixonado por uma vida ainda precoce de novos prazeres, Sempre fui um apaixonado por crianças e por tudo o que as rodeia. Nada me fascina mais que o sorriso duma criança, mesmo sem braços para a abraçar, nem palavras para a confortar, senti-me finalmente como um peixe na água.
Aquele espaço afinal sempre foi o meu, estive somente por momentos vestido de carne e osso nesta minha vida. Estava finalmente de volta no meu habitat natural.

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Meu Vizinho





Demorei-te a aceitar como tu realmente és, até ao caminhar denotas carinho e humildade. És o meu vizinho mais introvertido e ficas sentado sempre na esquina do nosso prédio á espera que o teu dono chegue para te acompanhar na mijinha da manhã. Por vezes sinto pena ao ver-te rastejar naquela areia da praia, os teus membros inferiores fazem-te diferente, provavelmente fazem-te também sentir o medo e a dor de maneira diferente dos outros cães. Fiz-me de velho metido na vida dos outros e questionei o teu dono acerca dessa invalidez.
Fiquei a saber que eras o cão mais simpático da zona, que todos te adoravam pelo teu jeito brincalhão e pela atitude de defensor do próximo. Certo dia ousaste enfrentar aquele enorme pedaço de lata que atravessou a rua sem parar na passadeira, sem razão aparente fizeste ouvidos de mercador e não retrocedeste em teus curtos passos, e disso resultou uma quebra de sensibilidade dos membros inferiores. Contentas-te com pouca coisa e a tua vida resume-se a umas curtas viagens á rua e uns enlatados para petiscares durante o dia.
Apesar de tudo continuas de cabeça levantada e com um olhar fraterno de sedução, apesar da idade que te recolhe já grande parte da timidez contínuas imponente na tua atitude de continuares a querer ser feliz.