quarta-feira, janeiro 04, 2006

Meu Vizinho





Demorei-te a aceitar como tu realmente és, até ao caminhar denotas carinho e humildade. És o meu vizinho mais introvertido e ficas sentado sempre na esquina do nosso prédio á espera que o teu dono chegue para te acompanhar na mijinha da manhã. Por vezes sinto pena ao ver-te rastejar naquela areia da praia, os teus membros inferiores fazem-te diferente, provavelmente fazem-te também sentir o medo e a dor de maneira diferente dos outros cães. Fiz-me de velho metido na vida dos outros e questionei o teu dono acerca dessa invalidez.
Fiquei a saber que eras o cão mais simpático da zona, que todos te adoravam pelo teu jeito brincalhão e pela atitude de defensor do próximo. Certo dia ousaste enfrentar aquele enorme pedaço de lata que atravessou a rua sem parar na passadeira, sem razão aparente fizeste ouvidos de mercador e não retrocedeste em teus curtos passos, e disso resultou uma quebra de sensibilidade dos membros inferiores. Contentas-te com pouca coisa e a tua vida resume-se a umas curtas viagens á rua e uns enlatados para petiscares durante o dia.
Apesar de tudo continuas de cabeça levantada e com um olhar fraterno de sedução, apesar da idade que te recolhe já grande parte da timidez contínuas imponente na tua atitude de continuares a querer ser feliz.

Sem comentários: