terça-feira, dezembro 20, 2005

O Natal pode ser todos os dias...




Debrucei-me sobre a mesa de jantar, naquela altura já faltava pouco para o momento mais esperado da noite. A minha mãe tinha-me levado para uma casa suspeita, com gente muito estranha, mas não podia sequer abrir a boca para reclamar naquela noite, pois mais altos interesses materiais se levantavam. Só mais tarde vim a descobrir que a noite de natal serve inclusivamente para reunir famílias cada vez mais distantes neste mundo, o natal para mim só tinha significado se houvesse uma doce prenda para desembrulhar.
Os meus novos amigos brincavam vaidosos com os seus novos brinquedos facultados por um dinheiro difícil de conquistar, dificilmente passará pela cabeça daquelas crianças quantas horas de trabalho árduo resultaram num bocado de plástico colorido feito prenda. Eu cá por mim já ficava contente com um daqueles carrinhos pequenos da Matchbox, por mim já era suficiente para passar tardes e tardes sem emitir um único ruído. Para a minha Mãe era enriquecedora esta nova experiência, carrinhos em troca dum silêncio matinal. Quando cresci renovei a minha frota automóvel e até construí uma garagem feita com pauzinhos de gelado. Aprendi que um dia mais tarde somos responsabilizados ao ponto de nos pedirem para sermos gentis com o próximo.
A desconfiança em nós é tal que nos dizem que temos de acabar a escola para sermos alguém neste mundo, curioso o facto de eu me sentir já alguém e não sequer ter chegado a metade do ensino secundário.
Os votos de prósperos anos novos são renováveis de ano a ano, parece inclusive que temos um gravador na nossa cabeça nesta época nesta quadra, parecemos todos mais simpáticos e educados, até que o perigoso stress volta a apoderar-se de nós. Sempre sonhei que o Pai Natal existia e que descia pela minha chaminé para me entregar as prendas, essa imaginária personagem ainda permanece dentro de mim como que a questionar a minha própria imaginação.
Assim sendo pode o natal ser uma fuga para esquecer algo que nos apoquenta, será que esta quadra serve para desviar atenções de algo que não desejamos que aconteça?...Então que o natal seja mesmo todos os dias, pois estamos fartos de constantes desilusões…

terça-feira, dezembro 13, 2005

Filme da minha vida





Ontem voltei a ser criança de novo, na Caixinha magica reapareceu de novo o extraterrestre mais puro e fraterno que alguma vez existiu. As minhas memórias nunca se vão esquecer da primeira vez que fui espectador atento dum filme de Spielberg.
Estávamos no ano de 1982 e o E.T ainda era uma criança como eu, chorava e escondia-se dos humanos que o apoquentavam dia-a-dia. Nessa doce tarde dum Dezembro friorento passeava por ruas de Almada um rapaz que parecia que vi o mundo todo azul, para ele não havia motivos grandes preocupações, nem casos de resolução difícil, vivia a vida como se houvesse sempre um amanhã.
O “meu” extraterrestre também era um pouco assim, vivia consoante a vida que lhe era proporcionada, vivia com a sensação que uma amizade afinal pode perdurar para sempre, sobretudo em nossa mente. O Incrível Almadense estava cheio de pequenada ansiosa por ser deslumbrada por este poderoso filme, Spielberg conseguir transportar toda esta inocência para o ecrã. Conseguir fazer uma inteira sala de cinema chorar de tremendo sentimentalismo e ternura. Até a pequena Gertie agora uma atraente e responsável actriz conseguia enfeitiçar os meus húmidos olhos.
Este é o filme da minha vida, aquele que eu vou levar para cova enrolado no pano da minha memória, por ele já chorei compulsivamente, por ele já ganhei tanto carinho que é me difícil passar um ano sem o rever. Acho que também foi graças a esta obra-prima do cinema que sou hoje uma pessoa mais sensível e responsável, talvez seja devido a ele consiga ver as coisas de maneira sempre positiva.