segunda-feira, outubro 17, 2005

Canto duma Sereia



Já era noite cerrada quando me aproximei da praia lá da foz, corria um aroma com cheiro a algas que me enchia as medidas.
Ao chegar perto do areal húmido senti aquele som cada vez mais próximo de meu ouvido, senti que chegara a hora de me despir e fazer os meus pés sentirem o sal daquele mar. Lembro-me tão bem desse momento que sempre que penso nisso os meus pés ficam brancos causando uma sensação agradável de inquietude.
A Agua estava algo gelada e sentia mesmo algum frio, mas comparando com o entusiasmo que me rodeava a alma, tudo parecia ser despejado para detrás das costas.
Nunca escondi que o mar era o meu local de refúgio, é talvez o único local onde me sinto verdadeiramente escondido deste mundo. Sinto-me disposto a desafia-lo por mais uma vez, ao procurar nele algo de inovador e magico. O desafio prende-se com o simples facto de adivinhar o emissor daquele som apaixonante que me entrou dentro do espírito sem pedir nenhuma licença. Pensei em pedir ajuda á Neptuno mas este com tanto que fazer virou-me literalmente as costas sem sequer abrir a boca.
Que alguém faça o favor do o castigar quando o avistarem perto de terra firme.
As estrelas-do-mar sempre me iam mantendo atento e deslumbrado por infinita beleza marítima, hão de reparar que sempre que um livro afecto a crianças se desfolha existe sempre um desenho de uma estrela-do-mar a abrir caminho para um doce sorriso.
Senti-me perigosamente cansado ao nadar tantas milhas, a alternativa era repousar até que as forças pudessem de novo voltar a mim. Fico em descanso obrigatório alguns minutos para retemperar a energia perdida neste desafio entusiasta. Assustei-me com um toque duma mão salgada em meu ombro, virei-me sem saber que do meu lado esquerdo apresentava-se um ser de beleza indescritível, uma fonte de brilho imenso...umas formas de fazer corar a mais sedutora das mulheres.
Estava ferida em sua face, tinha embatido num rochedo quando foi acompanhante dum golfinho numa viagem á costa francesa e por isso pedia ajuda através dos fiéis seguidores do mar. Falou-me que a sua cauda já percorreu mares longínquos, que já se comprometeu com deuses do mar, que já sorriu perante percalços de tartarugas.
Aquele som afinal um misto de tristeza e sofrimento perante um descuido de iniciado viajante. Acenei positivamente quando me perguntou se podia fazer deslizar a minha mão pela sua face brilhante de modo a conter a sua ferida profunda. Não reconheci que a minha mão pudesse fazer milagres quase sobrenaturais, mas a dura verdade é que mal eu coloquei minha mão já enrugada na face daquela sereia esta pareceu pertencer ao mundo dos rejuvenescidos. Voltou o sorriso encantador, Voltou a baloiçar a cauda em sinal de satisfação...em forma de gratidão aquele beijo dela em minha testa fez-me acordar dos lençóis já transformados em amarras...

4 comentários:

xein disse...

E é tão bom soltar amarras.... Principalmente quando não nos conseguimos libertar sozinhos...

Obrigada pela visita ;)


Sente-te!!!

Anónimo disse...

E não é que tinhas razão...Adorei:) Ai ai ai...Isto é que foi perder me nas tuas palavras que descreveram a beleza de um ser, de um momento, de um sonho:)

Beijokinhas,
Fica bem

Ass:www.barmaid.blogs.sapo.pt

Anónimo disse...

O que eu gostava de ser uma sereia...sabes que amo o mar tal como tu. Por isso mesmo viajei a ler este texto, bem escrito como sempre.

Beijinhos

Oma Eddie disse...

Lembras-me dos meus sonhos de miudice... Quando eu via "A Pequena Sereia" 100 vezes seguidas e achava que podia ser como ela. Na verdade, ainda acho que posso ser como ela... :)