
...Assustei-me com um choro quase infantil e deslumbrei no meu olhar um animal sangrando pedindo quase clemência como a um deus de outro mundo.
Enfim o lobo se aproximou inocentemente como alguém que tem receio de algo ou de alguém, e eu também estava inseguro e com um medo que procurava não demonstrar para fora de mim. A única vez que estive perto dum verdadeiro lobo foi quando a minha tia pegou em mim literalmente ( pesava 120 kilos) e me levou a visitar o Zoo de Lisboa.
Chegando-se perto de nós o seu olhar misterioso e cúmplice não deixava duvidas...Tínhamos entre mãos um assunto delicado.
Peguei no utensílio que tinha mais a mão e tentei resguardar-me de qualquer ataque feroz do animal visivelmente entristecido. A respiração ofegante e medrosa da pessoa que habitava na minúscula cabana podia-se ouvir a quilómetros de distancia. Estávamos perante um ambiente pesado. Ao ver-me com um olhar receoso, o lobo sorriu como quem quer-nos pregar uma partida inesperada.
Afirmou que a única lembrança ou sentimento que efectivamente queria de volta era a sua dignidade quer como animal, quer como ser vivo.
Pediu a minha mão como uma criança pede um rebuçado e apontou para detrás da porta de madeira.
Debrucei-me sobre ela e reparei que algum sangue ainda fresco manchava aquele mísero chão feito de canas de açúcar. Depois de muito vasculhar entre as canas com um cheiro moribundo encontrei finalmente o que causava o desespero daquele animal...Uma pequena fêmea ainda respirava milagrosamente.
Tantas eram as suas feridas que mal se viam os olhos de desespero do doce animal
Não foi necessário pensar muito para encontrar o responsável pela aquela atrocidade...
Deixei o lobo enraivecido pela tristeza duma cria perdida tratar da situação duma forma muito pouco pacifica. Fiz-me de indiferente face aos gritos de desespero que vinham da cabana depois de eu a abandonar..
E se existe alguém que eu possa condenar não é o concerteza o velho lobo...