terça-feira, janeiro 17, 2006

Afinal na Morte também há vida...




Hoje imaginei que no céu afinal há vida, que existem pássaros brancos a voar no céu, que se podiam ouvir os sons duma linda catarata e o uivar dum pequeno lobo.
De imaginação passou para sonho e de sonho mudou-se para uma realidade nunca presenciada, que a minha imaginação nunca se perca em caminhos solitários sem ninguém com quem conversar. Senti-me esboçar um sorriso quando avistei o Amílcar, afinal este pobre diabo também veio aqui parar. Amílcar era um tipo bem formado, educado e com um enorme sentido de responsabilidade, desviou-se dessa rota quando zangado e completamente fora de si, pegou num pedra da calçada calcando-a na cabeça da sua pobre mulher. Ele também não foi sujeito a nenhuma vistoria especial quando entrou neste rio, lembro-me parcialmente da última imagem que meus olhos visualizaram na Terra, era um peixe de cauda bem espessa, toda sarapintado de vermelho e negro. Foi nessa altura que os meus olhos se fecharam.
Os olhos daquele peixe transformaram-se agora nos meus, Nesta altura o único prazer de ser humano que resiste dentro de mim é o apetite demonstrado num belo manjar. Esforçou-me para me manter de boca fechada dentro de água, jamais poderei alertar este imenso cardume de que já fui humano por uma única vez. Ressalta a vista outro pormenor delicioso neste rio de água doce, toda a sua espuma envolvente cheira a sentimento puro, cheira a inocência infantil, cheira a um sorriso precoce.
Quando ouço vozes de alarme prevejo que algo está a acontecer neste meu novo ambiente, reparo que Afonso (conheci-o quando escrevi este mar de frases) me diz para sair da sua frente, é que finalmente reparo naquele enorme gigante.
Confesso que não fiquei assustado com tamanho gigante, olhei com surpresa que a brincadeira daquele pobre gigante era somente nos assustar com seus sopros, que inevitavelmente provocavam pequenas ondas.
Ao olha-lo de mais perto reparei que usava fraldas fechadas por um alfinete já enferrujado, tinha um sorriso leve de criança apaixonado por uma vida ainda precoce de novos prazeres, Sempre fui um apaixonado por crianças e por tudo o que as rodeia. Nada me fascina mais que o sorriso duma criança, mesmo sem braços para a abraçar, nem palavras para a confortar, senti-me finalmente como um peixe na água.
Aquele espaço afinal sempre foi o meu, estive somente por momentos vestido de carne e osso nesta minha vida. Estava finalmente de volta no meu habitat natural.

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom, muito criativo! Até me senti uma peixa... eu sou uma peixa...
E vivam os peixes e quem gosta mesmo é de se sentir tocado pela água. Aposto que também gostas.

Beijinhos

xein disse...

E viva a Katie Melua... Gosto mesmo... Quanto à vida na morte... Tem muito que se lhe diga... Nós, budistas, acreditamos em vida após vida... E às vezes ainda me questiono! :)

Sente-te!!!